sábado, 24 de janeiro de 2015

Kata


No tripé conhecido pelos Karatecas, já abordamos o Kihon (técnicas básicas) e agora chegamos ao tronco do Karatê Shotokan ou Kata que são formas predefinidas ou combinações lógicas de técnicas de bloqueio, soco e chute.

Não vamos nos precipitar! Ainda não estou falando de competição.

Mestres como Nakayama, Sagara, Nakama são unanimes no treinamento quando o assunto é Kata. No livro “O melhor do Karatê” Nakayama divide os Kata em dois grupos, no primeiro grupo os apropriados ao desenvolvimento físico e ao fortalecimento muscular e no grupo dois os Kata apropriados para o desenvolvimento de reflexos e movimentos rápidos.
Dentro da sequência do Karatê Shotokan seguida pela JKA, ISKF, YOBUKAN e pela Garras do Tigre, os alunos faixa branca a laranja treinam os Kata Heian (5 Kata) por mais que pareçam simples, eles requerem tranquilidade para serem executados. Os Kata da série Heian juntamente com a série Tekki (3 Kata) se encaixam no primeiro grupo e são considerados os Kata básicos da Shotokan e devem ser praticados até que essas técnicas sejam assimiladas e passem a ser executadas de forma natural.
Os outros 18 Kata são considerados os superiores que tem como objetivo os movimentos relâmpagos. Esses Kata sugerem o vôo rápido da andorinha que representa a agilidade (Empi), o grou sobre a rocha ou equilíbrio (Gankaku), a força (Jion e Gojushiho) ou desenvolvimento de uma base firme (Sochin). Cada Kata superior possui um objetivo, e dá ênfase a um determinado tipo de treinamento e fazem parte do grupo dois.
Para treinar Kata os praticantes devem buscar o domínio de três fatores que não precisam ser aperfeiçoados nessa ordem. O Espírito, que o mestre Sagara afirma, através do treinamento busca a elevação do estado espiritual. O domínio da mente que através do treinamento físico busca-se captar a energia da mente que é utilizada para “produzir” e “construir” e buscar na sua parte mental a tranquilidade e o auto-controle. E o domínio do físico busca o equilíbrio do quadril, pernas e braços e o aperfeiçoamento do Kimê. Os karatecas devem buscar o equilíbrio desses três fatores.

Segundo Nakayama os pontos específicos no desempenho dos Kata são:

Ordem correta: o número e a sequência dos movimentos são predeterminados.
Começo e término: o Kata tem que ser iniciado e concluído no mesmo ponto do embusen (caminho do Kata).
Significado de cada movimento: cada movimento, de defesa ou ataque, tem que ser claramente entendido e plenamente expressado.
Consciência do alvo: o karateca tem que saber o que é o alvo e quando executar uma técnica.
Ritmo e regulagem do tempo: o ritmo tem que ser apropriado a cada Kata em particular e o corpo tem que estar flexível. Nunca demasiado tenso.
Respiração adequada: a respiração deve ser alterada de acordo com as situações, mas basicamente inspirar ao bloquear e expirar ao executar uma técnica de arremate.


Kata básico

Kata Superior*
Heian Shodan
Bassai dai
Heian Nidan
Jion
Heian Sansan
Kanku dai
Heian Yodan
Empi
Heian Godan
Hangetsu
Tekki Shodan
Bassai sho
Tekki Nidan
Kanku sho
Tekki Sandan
Chinte

Jitte

Gankaku

Sochin

Nijunshiho

Meikyo

Gojushiho sho

Gojushiho dai

Unsu

Jiin

Wankan
*Os Kata superiores não ensinados/aprendidos necessariamente nesta ordem

Como o próprio Funakoshi previu, ainda em vida:
“Os tempos mudam, o mundo muda e obviamente as artes marciais também devem mudar. O Karatê que os alunos de segundo grau praticam hoje não é o mesmo que era praticado há dez anos, e é bem grande a distância que o separa do Karatê que aprendi quando era criança em Okinawa. Considerando que não há atualmente, e nem nunca houve, nenhuma regra rígida com relação aos vários katas, não é de surpreender que estes tenham mudado não somente com os tempos mas ainda de instrutor para instrutor” (FUNAKOSHI, 1975, p.47-48)


Assim, o Karatê tem sido (re)inventado...


Hoje vemos várias linhagens no Karatê, inclusive dentro da Shotokan, e não existe um consenso quanto ao que é certo ou errado nos Kata. Essas diferenças nas escolas geram muitas controvérsias entre os praticantes, até mesmo muitos dos mais velhos e mais graduados não têm clareza de qual linhagem seguir.

JKA (Japan Karate Association);
ISKF (International Shotokan Karate Federation);
SKIF (Shotokan Karate International Federation);
JKF (Japan Karate Federation).

O agravante é que inúmeras confederações e outras instituições esportivas, no Brasil e no mundo, tem como objetivo as competições, dando ênfase ao treinamento e ao aprimoramento técnico voltado à plasticidade dos movimentos (estética), em detrimento a essência e eficiência verdadeira dos Kata.
O Karatê Esportivo é uma tendência irreversível, e de reconhecida importância. Mas é necessário admitir que essa esportivização tem gerado consequências negativas em alguns casos, como a negligência de valores essenciais para a formação de seus “atletas”.

Como afirmou nosso grande mestre, “O Karatê-Dô é um só [...] um problema sério que assedia o Karatê-Dô atual é a predominância de escolas divergentes. Acredito que isso terá um efeito deletério sobre o desenvolvimento futuro da arte.” (FUNAKOSHI, 1975, p.48)


Recuperando a analogia da nossa árvore... deixo aqui uma reflexão aos especializados em Kumitê: COMO COLHER FRUTOS DE UMA ÁRVORE QUE NÃO TEM GALHOS, TRONCO E RAÍZES FORTES?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Kihon


Créditos de Imagem:  http://www.karatenerd.com.br/

O Karatê Shotokan é formado por um tripé conhecido pelos karatecas como Kihon (técnicas básicas), Kata (formas) e o Kumite (Luta), os grandes mestres do Karatê defendem que os três são em essência uma única coisa. Para mestre como Jonery Henrique dos Santos e pela própria JKA (Associação Japonesa de Karatê), sem o Kihon (técnicas básicas) não pode haver nem Kata nem Kumite. Igualmente o Kata que não deve ser separado do Kumite, pois perde-se o conhecimento que vem da aplicação (sentido de unidade ou totalidade), da mesma forma que não pode haver Kumite separado do Kata a fim de não perder a agilidade característica do Karatê.

Considerando este tripé, hoje vamos falar do Kihon, que são as raízes do Karatê, em uma analogia a uma árvore. O Kihon são as raízes, a força, o que sustenta toda uma estrutura. Se os karatecas tiverem uma raiz fraca a árvore tende a cair. Nas outras partes da árvore podemos entender os troncos sendo os Katas e as folhas e frutos o Kumite, que abordaremos em outras postagens.

As palavras do Sensei Jonery Henrique dos Santos, quando falamos de Kihon são claras: para o mestre são processos pedagógicos onde o praticante aprende o básico que apóia toda a estrutura técnica e física. 

As graduações do Karatê Shotokan são 07 Kyus, dentro da escola Yobukan são 09 Kyus. Para cada Kyu há uma cobrança, e está aí a grande importância do Kihon. Um faixa branca para amarela ou branca para cinza deve saber alguns golpes de Tzuki (soco), Uke (defesa), Geri (chute) e Dachi (posições), eles precisam de uma postura adequada, equilíbrio e ângulo de cada movimento e o principal e como em tudo na vida é necessário a dedicação e a repetição contínua para aprimorar o Kihon Karatê.

Segundo o Sensei Jonery “O Kihon é o alicerce para todos os demais treinamentos que advirão com o crescente aumento do nível técnico do praticante. Sendo exercícios básicos, onde se firmarão todos os outros, é preciso uma repetição diária e constante para se adquirir força, velocidade, coordenação, resistência etc., que são necessárias para o aprimoramento do Kata e do Kumite”. 

Sempre que o professor colocar a palavra Kihon na frente de outra palavra, quer dizer que deve ser feito o fundamento perfeito como num exame de faixa, colocando sempre em primeiro lugar a técnica bem executada, em segundo lugar a força e por último a velocidade. Nunca fazer veloz sem a força e nunca fazer forte sem a técnica correta.