No tripé conhecido
pelos Karatecas, já abordamos o Kihon (técnicas básicas) e agora chegamos ao
tronco do Karatê Shotokan ou Kata que são formas predefinidas ou combinações lógicas
de técnicas de bloqueio, soco e chute.
Não vamos nos precipitar!
Ainda não estou falando de competição.
Mestres como Nakayama,
Sagara, Nakama são unanimes no treinamento quando o assunto é Kata. No livro “O
melhor do Karatê” Nakayama divide os Kata em dois grupos, no primeiro grupo os
apropriados ao desenvolvimento físico e ao fortalecimento muscular e no grupo dois
os Kata apropriados para o desenvolvimento de reflexos e movimentos rápidos.
Dentro da sequência do Karatê Shotokan
seguida pela JKA, ISKF, YOBUKAN e pela Garras do Tigre, os alunos faixa branca
a laranja treinam os Kata Heian (5 Kata) por mais que pareçam simples, eles
requerem tranquilidade para serem executados. Os Kata da série Heian juntamente
com a série Tekki (3 Kata) se encaixam no primeiro grupo e são considerados os
Kata básicos da Shotokan e devem ser praticados até que essas técnicas sejam
assimiladas e passem a ser executadas de forma natural.
Os outros 18 Kata são
considerados os superiores que tem como objetivo os movimentos relâmpagos. Esses
Kata sugerem o vôo rápido da andorinha que representa a agilidade (Empi), o
grou sobre a rocha ou equilíbrio (Gankaku), a força (Jion e Gojushiho) ou
desenvolvimento de uma base firme (Sochin). Cada Kata superior possui um
objetivo, e dá ênfase a um determinado tipo de treinamento e fazem parte do
grupo dois.
Para treinar Kata os
praticantes devem buscar o domínio de três fatores que não precisam ser
aperfeiçoados nessa ordem. O Espírito, que o mestre Sagara afirma, através do
treinamento busca a elevação do estado espiritual. O domínio da mente que
através do treinamento físico busca-se captar a energia da mente que é
utilizada para “produzir” e “construir” e buscar na sua parte mental a
tranquilidade e o auto-controle. E o domínio do físico busca o equilíbrio do
quadril, pernas e braços e o aperfeiçoamento do Kimê. Os karatecas devem buscar
o equilíbrio desses três fatores.
Ordem correta: o número e a sequência dos movimentos são
predeterminados.
Começo
e término: o
Kata tem que ser iniciado e concluído no mesmo ponto do embusen (caminho do
Kata).
Significado de cada movimento: cada movimento, de defesa ou
ataque, tem que ser claramente entendido e plenamente expressado.
Consciência do alvo: o karateca tem que saber o
que é o alvo e quando executar uma técnica.
Ritmo e regulagem do tempo: o ritmo tem que ser
apropriado a cada Kata em particular e o corpo tem que estar flexível. Nunca
demasiado tenso.
Respiração adequada: a respiração deve ser
alterada de acordo com as situações, mas basicamente inspirar ao bloquear e
expirar ao executar uma técnica de arremate.
Kata
básico
|
Kata
Superior*
|
Heian Shodan
|
Bassai dai
|
Heian Nidan
|
Jion
|
Heian Sansan
|
Kanku dai
|
Heian Yodan
|
Empi
|
Heian Godan
|
Hangetsu
|
Tekki Shodan
|
Bassai sho
|
Tekki Nidan
|
Kanku sho
|
Tekki Sandan
|
Chinte
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Jitte
|
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Gankaku
|
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Sochin
|
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Nijunshiho
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Meikyo
|
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Gojushiho sho
|
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Gojushiho dai
|
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Unsu
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Jiin
|
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Wankan
|
*Os Kata superiores não
ensinados/aprendidos necessariamente nesta ordem
Como o próprio
Funakoshi previu, ainda em vida:
“Os
tempos mudam, o mundo muda e obviamente as artes marciais também devem mudar. O
Karatê que os alunos de segundo grau praticam hoje não é o mesmo que era
praticado há dez anos, e é bem grande a distância que o separa do Karatê que
aprendi quando era criança em Okinawa. Considerando que não há atualmente, e
nem nunca houve, nenhuma regra rígida com relação aos vários katas, não é de
surpreender que estes tenham mudado não somente com os tempos mas ainda de
instrutor para instrutor” (FUNAKOSHI, 1975, p.47-48)
Assim, o Karatê tem
sido (re)inventado...
Hoje vemos várias
linhagens no Karatê, inclusive dentro da Shotokan, e não existe um consenso
quanto ao que é certo ou errado nos Kata. Essas diferenças nas escolas geram
muitas controvérsias entre os praticantes, até mesmo muitos dos mais velhos e
mais graduados não têm clareza de qual linhagem seguir.
JKA
(Japan Karate Association);
ISKF
(International Shotokan Karate Federation);
SKIF
(Shotokan Karate International Federation);
JKF
(Japan Karate Federation).
O agravante é que inúmeras
confederações e outras instituições esportivas, no Brasil e no mundo, tem como
objetivo as competições, dando ênfase ao treinamento e ao aprimoramento técnico
voltado à plasticidade dos movimentos (estética), em detrimento a essência e
eficiência verdadeira dos Kata.
O Karatê Esportivo é
uma tendência irreversível, e de reconhecida importância. Mas é necessário admitir
que essa esportivização tem gerado consequências negativas em alguns casos,
como a negligência de valores essenciais para a formação de seus “atletas”.
Como afirmou nosso
grande mestre, “O Karatê-Dô é um só [...]
um problema sério que assedia o Karatê-Dô atual é a predominância de escolas
divergentes. Acredito que isso terá um efeito deletério sobre o desenvolvimento
futuro da arte.” (FUNAKOSHI, 1975, p.48)
Recuperando a analogia da
nossa árvore... deixo aqui uma reflexão aos especializados em Kumitê: COMO
COLHER FRUTOS DE UMA ÁRVORE QUE NÃO TEM GALHOS, TRONCO E RAÍZES FORTES?